Junta de Freguesia de Remelhe Junta de Freguesia de Remelhe

História

Capela de S. Tiago

A atual Capela de S. Tiago foi outrora uma Igreja Paroquial, precisamente no tempo em que teve a sua existência a antiga Paróquia de S. Tiago de Moldes.
Esta Paróquia, deveras antiga, vem já mencionada no Censual do Bispo D. Pedro, sinal de que já existia nos finais do século XI. Nos inícios do século XIII, ou mais precisamente, no ano de 1220, ela vem igualmente referida nas Inquirições de D. Afonso II, como tendo um pároco (o abade Pedro Gonçalves) e dez vizinhos, que afirmaram possuir esta Igreja as suas searas. Tinha um pároco, tinha paroquianos e tinha, certamente, uma Igreja, edificada no estilo próprio daquele tempo.
Três séculos mais tarde e em virtude do movimento de reestruturação da diocese Bracarense, decretada pelo concílio de Trento e levada a efeito por D. Frei Bartolomeu dos Mártires, a Paróquia de S. Tiago de Moldes é extinta em 1566 e é incorporada na Paróquia de Santa Marinha de Remelhe.
Na data da sua extinção a Igreja de S. Tiago, até então Igreja Paroquial, passa a Capela de S. Tiago, que, desde então, é capela pública. A sua dimensão, a sua disposição interior e a sua estrutura externa mantiveram-se pelos anos fora. Apenas um ou outro pequeno trabalho de manutenção foi realizado, depois de determinado pelo visitador canónico da Paróquia de Remelhe, sem contudo afetar a sua estrutura arquitetónica.
Nos inícios do nosso século, a Capela de S. Tiago voltou a sentir a presença constante e o calor espiritual da comunidade cristã. Foi durante o exílio de D. António Barroso, em Remelhe, entre os anos de 1911 a 1914. Foi efetivamente nesse período de tempo que o grande bispo do Porto fez da Capela de S. Tiago a sua catedral para nela celebrar, em liturgias solenes, dezassete ordenações gerais, durante as quais conferiu vários ministérios de Prima Tonsura e de Ordens Menores, muitas ordens de Subdiácono e de Diácono, e sessenta e quatro ordens de Presbítero (sacerdote) a sessenta e três candidatos da diocese do Porto e a um da arquidiocese de Braga.
Para todas estas ordenações a Capela de S. Tiago fez as vezes de Catedral, recebeu a presença de um bispo credenciado, deixou-se imbuir da solenidade própria de uma ordenação geral e abraçou uma multidão de fiéis a testemunhar o seu cristianismo autêntico.
Hoje a Capela de S. Tiago mantém a estrutura física e religiosa de uma Igreja Paroquial de meados do século XVI, com a sua capela-mor e o seu corpo principal unidos por um arco redondo, e com a sua pequena sineira colocada no alto e na frente do telhado, mesmo ao cimo da porta principal. É um dos poucos exemplares de uma Igreja Paroquial de meados do século XVI a subsistir numa zona rural.


Santa Marinha (nossa Padroeira)

Virgem e mártir de Antioquia, Santa Marinha tem culto documentado na Península Ibérica pelo menos desde meados do século IX (854).
O seu culto cresceu tão rápida e tão profundamente que veio a suplantar o de santo Esperato e companheiros, mártires, que se festejavam também a 18 de Julho.
Muito popular também no ocidente, o seu culto é comprovado pelas vinte e três freguesias de que é padroeira, só na arquidiocese de Braga, além de ter sido titular secundária do mosteiro de Guimarães e de orago de muitas capelas e simples lugares.
As Igrejas de que é padroeira são das mais antigas, pois que os oragos orientais foram os primeiros a ser recebidos pelas Igrejas do ocidente.
Remelhe é uma das Igrejas que, juntamente com a de Moldes, receberam um padroeiro do oriente, o que vem comprovar a sua antiguidade e a sua importância.
Há, porém, outras Santas Marinhas, de vida mais ou menos lendária, que o espírito imaginativo de certos hagiógrafos fizeram nascer em Igrejas do ocidente. Vamos referir duas dessas lendas:
Uma, na Igreja de Orense, que reivindica esta santa como sua, já a partir do século XIII, mas, sobretudo, com a introdução do seu nome no Martirológio Romano de 1586. Todavia nem tudo é claro nesta lenda, que não resiste aos críticos da hagiografia. Um autor espanhol - Flórez - prefere dizer que a Santa Marinha de Orense talvez fosse uma santa local, a que, por falta de legenda própria, adaptariam a de santa Marinha de Antioquia.
Outra, na Igreja de Braga, que também reclama esta santa desde o breviário de D. Rodrigo da Cunha, de 1634, que, apresenta santa Marinha como irmã gémea de mais oito meninas, todas mártires, filhas de Lúcio Atílio Severo, governador do território bracarense, e de Cálcia Lúcia, nobre romana, todas elas batizadas e educadas pelo também lendário bispo santo Ovídio. Esta lenda foi mais tarde artisticamente enroupada por frei Bento da Ascensão, monge beneditino do mosteiro de Pombeiro, no ano de 1722. Apesar de destituída de qualquer fundamento histórico, é esta a lenda admitida em quase todos os templos dedicados a Santa Marinha.
- Esta breve história de Santa Marinha foi gentilmente cedida pelo Padre José Adílio Macedo -

D. António Barroso - Ilustre Bispo Missionário

D. António José de Sousa Barroso nasceu na freguesia de Remelhe, do concelho de Barcelos, a 5 de Novembro de 1854, e faleceu no Porto, a 31 de Agosto de 1918. Seus pais representavam um casal de gente da lavoura sem grandes recursos para dar uma educação superior ao seu filho. De modo que, só aos 17 anos de idade, foi matriculado no Seminário de Braga, e daqui transferido a 3 de Novembro de 1873 para o Real Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache, onde se ordenou presbítero, em Setembro de 1879. Foi missionário cientista em Angola e em Moçambique. O seu relatório de 1894, sobre o «Padroado de Portugal em África» patenteia o valor da sua ação como bispo missionário.
Em 1899, será bispo do Porto. Em 1911, quando foi dada a conhecer a «Pastoral do Episcopado Português», em que se afirma desacordo com alguma Legislação do Governo, reaviva-se a luta anti-clerical. Os governadores civis proíbem a leitura dessa pastoral e, por desobediência a essa proibição, são presos dezenas de párocos. E o próprio bispo do Porto foi preso e levado, sob custódia, a Lisboa. Sempre afirmando a determinação apostólica, D. António Barroso conhecerá depois o exílio, de onde só voltará em 1914, para, afinal, voltar a ser exilado em 1917. Deixou alguns escritos, sobretudo relatórios missionários, e o livro «O Congo», tido como um trabalho da melhor literatura.


Igreja de Remelhe - Segundo o Padre José Adílio Macedo (2013)

Nascida no regime de “igreja própria” ou “igreja senhorial”, a Igreja de Remelhe era certamente um templo pequeno, a condizer com o reduzido número de habitantes. De linhas sóbrias, terá nascido ao gosto da arte românica. As Igrejas deste tempo eram simples mas robustas, de sóbria decoração, utilizando o rude granito da região. Eram as “igrejas próprias” dos templos da reconquista. Tempos em que os fundadores das igrejas eram os seus legítimos proprietários, bem como dos seus bens patrimoniais.
É com a reconquista cristã que começa uma nova vida para Remelhe. Príncipes e varões ilustres, em espírito de cruzada, deixam as suas terras da Gália e da Alemanha, e vêm combater, na Península, os invasores muçulmanos. É que a Gália e a Europa defendiam-se na linha dos Pirenéus.
Entre os príncipes e cavaleiros cristãos sobressaem os nomes de Ricardo e Henrique, vindos da Borgonha, que ficaram a administrar os condados da Galiza e de Portucale. Mas com eles e como eles outros vieram, como alguns varões da região de Remi ou Rhemi, ao norte da Gália. Da terra de Raimundo e Henrique. O povo desta região, que tem por centro a cidade de Reims, deu nomes famosos à Pátria e à Igreja, como S. Remígio (437-533), apóstolo da França.
Ora nós julgamos ter sido um ilustre varão da região de Remi ou Rhemi – um Remellus – que, tendo assumido a restauração cristã e o repovoamento humano desta região, viesse a dar o nome a toda esta vertente do monte da Vaia, hoje conhecida por monte de Remelhe. A forma genitiva do topónimo evidencia a proveniência de uma personagem anterior à formação da nacionalidade. É também esta a opinião do Dr. J. Piel, que escreveu: “Remelhe representa o genitivo de um nome Remellus, forma latinizada de um suposto gótico Rimila, que Gamillscheg, de facto, aponta como nome borgundo”. Por sua vez Rimila vem da raiz gótica rimis que significa descanso .
Na verdade, quem alcança a vertente de Remelhe e estende o olhar pelo vale de Pereira e Alvelos e o levanta até ao cimo do monte da Franqueira, sente uma sensação de descanso e, ao mesmo tempo, um desejo e uma ansiedade por descortinar o que está para alem desse monte – a orla marítima do Atlântico.
Com o étimo Remellus, Remelli, concorda perfeitamente a forma Rameli dos séculos XII e XIII. Desta forma, tem pleno cabimento e perfeita compreensão a alusão à villa quos vocitant Rameli, uma expressão dos primeiros documentos históricos.
Também com o senhor Remellus ou Ramellus poderá estar relacionado o topónimo de Torre, que deu nome a um antigo lugar da freguesia, e que ainda hoje está adscrito a uma casa antiga, construída em bom granito, situada a poente da Igreja e do seu pequeno passal.
A partir dos fins do século XII nos aparece Remelhe como uma das paróquias da terra ou julgado de Faria. A sua instituição é, pois, muito antiga e deve ter-se operado a partir de uma “igreja própria” ou “igreja patrimonial”, como acima referimos. Com isto concorda o facto de se encontrar numa situação patrimonial fora do âmbito da posse real. A sua fundação deve remontar a uma “basílica” ou “igreja senhorial”, erecta numa “villa” rústica local, ou seja, na vila Remelli ou Ramelli.
Na verdade, no início do século XIII, ou, mais precisamente, no ano de 1220, a paróquia de Remelhe contava oito chefes de família, além do pároco próprio, o abade Silvestre. Estava situada numa zona fértil, de águas cadentes e abundantes. O Rei não era o senhor da Igreja, nem tinha aqui qualquer propriedade. Apenas recebia um pequeno contributo em linho que, a pedido do abade Silvestre, ele dispensou, pelo bem da sua alma. De notar que nesta altura havia em Remelhe uma senhora notável, chamada D. Ouroana, que era ama de D. Mafalda, filha de D. Sancho I.
Embora não pertencesse ao Rei, a Igreja de Remelhe tinha, já nesse tempo, as suas posses – algumas searas e cinco casais. Eram posses de valor. Um desses casais veio provavelmente a dar origem à casa de Santa Marinha, casa grande nos tempos passados e nome que chegou até aos nossos dias.
A Igreja de Remelhe esteve sempre dedicada a Santa Marinha, patrona escolhida por comunidades cristãs muito antigas. É a Santa Marinha de Antioquia, virgem e mártir, com culto na península pelo menos desde o século IX. Tem a sua festa no dia 18 de Julho. O seu culto tornou-se muito popular, como o provam as vinte e três freguesias que a têm por titular, apenas na arquidiocese de Braga .
A paróquia de Remelhe continuou a seguir os caminhos da sua história. A partir de 1566 tem a companhia da extinta freguesia de S. Tiago de Moldes. Os livros de Visitações, a partir de meados do século XVI davam a Igreja, de estilo românico, a necessitar de obras.
No ano de 1721, sendo pároco o Padre José da Silva Fonseca, foi levantada uma nova Igreja. No ano de 1788 foi construída a Torre sineira e em 2002 foi a Igreja de Remelhe completamente restaurada e remodelada.
Convém referir, por último, que é natural desta paróquia, aqui foi batizado e aqui tem os seus restos mortais o grande missionário e bispo D. António Barroso (1854-1918). Falecido em odor de santidade, tem o processo de canonização a decorrer na cidade de Roma. Os seus amigos e devotos visitam, ainda hoje, os seus restos mortais, na Capela-Jazigo.
A personalidade singular do “bispo dos três continentes”, revelada na determinação com que orientou a sua vida, espelhada no espírito de sacrifício com que encarou as situações adversas, e manifestada na fé e na coragem com que se entregou ao serviço de Deus e dos Homens, é daquelas que ultrapassam a lei do tempo para se projetarem no espaço permanente da História. Estas personalidades deixam de existir mas não morrem, perdem-se no tempo mas alcançam a eternidade.

Freguesia de Remelhe - evolução histórica

Atualmente, Remelhe conta uma área total de 612 Ha, com uma população de 1309 habitantes, alojados em 465 edifícios. A agricultura, a industria têxtil, o calçado e a construção civil são as principais atividades económicas desta freguesia.
Geograficamente está situada na encosta Poente do Monte de Remelhe ou Monte Grande, confronta a Norte com as freguesias de Alvelos e de Gamil, a Poente com Midões e Santa Eulália de Rio Covo; a Sul com Carvalhas e Góios e a Poente, com Pereira. Dista 6,5 Km da sede de concelho.
Economicamente, a freguesia possui características marcadamente rurais onde como já foi referido acima a agricultura, a industria têxtil, o calçado e a construção civil são as principais atividades económicas desta freguesia, em que na agricultura predomina a produção de vinho, gado bovino e leite.

REMELHE, orago Santa Marinha, vem do genitivo Re­miculi do nome próprio latino Remiculus, diminutivo de Remus.
Foi incorporada nesta freguesia a freguesia de Moldes, que Ihe ficava ao sul. Moldes, orago Santiago, deriva da palavra latina modulas (1).
Nas Inquirições de 1220 vem com a designação “De Santo Jacobo de MoInes”, nas Terras de Faria. Nelas se diz que os homens de Vilar pagavam voz e calúnia e dão vida (2) ao Mordomo e ainda o seguinte: “Est de ista collatione dant pro fossadeira (3) IIIj. bra­cales v. cubitos et duas partes de uno cubito. Est isti homines forarii vadunt ad castellum”.
O Real Padroado apresentava Cura nesta freguesia até que, pela criação do Colégio dos Padres ]esuítas em Braga, passou essa faculdade para este colégio, tomando então o pároco o titulo de vigário.
Ainda existe a sua igreja Matriz, no lugar de Santiago; é pequena, baixa e de arquitetura simples, denotando porém grande antiguidade. Voltada ao poente, tem sobre a sua porta principal urna sineira com seu sino. Dentro, no lugar próprio, está urna curiosíssima pia batismal, muito antiga, em granito lavrado.
O altar-mor é de bem lavrada talha renascença e os tetos, tanto os da Igreja como os da Capela-Mor, são de castanho com caibros descobertos.
Tirando o pavimento, todo em inestético cimento, o seu conjunto, ainda que pobre, é artístico e ao contempla-la, na sua vetustez, parece urna veneranda velhinha enfeitada com seus limpos e bem conservados trapinhos.
Nesta capela, antiga Igreja Paroquial, conferiu por vezes ordens sacras o santo bispo do Porto D. António Barroso, quando do seu exílio da diocese.
Ao norte, um pouco afastado, estava o Cruzeiro Pa­roquial, do qual apenas existe a base e a coluna de construção tosca.
Dizem que aqui foi solar dos Moldes, família antiga, senhores da Honra de Carcavelos, na próxima freguesia de Góios, antecessores ou ligados por parentesco com os Góios, que, diga-se de passagem, são diferentes dos Gois, cujo solar é na Beira.
A freguesia de Santiago de Moldes uniu-se à de Santa Marinha de Remelhe em data que ignoro (4).
Esta última também era do Real Padroado, passando na mesma ocasião da de Santiago, para a jurisdição do Colégio de S. Pedro e S. Paulo, ou dos Apóstolos, da Companhia de Jesus em Braga.
Os seus párocos, ainda que algumas vezes fossem tratados por Abades, eram geralmente conhecidos por Vigários, tomando o titulo de Reitores só depois de 1852.
Vem esta freguesia também nas Inquirições de 1220 com a designação – “ De Sancta Marina de Remelí ” nas Terras de Faria.  Nelas se diz que o rei não tem aqui reguengo e que “ de ista ecclesia dant de foro domino Regí pro censuría j.  lenzo; et abbas solus dixit quod dominus Rex Alfonsus, qui modo regnat, quitavit íllium pro anima sua, sed quamvis non habet inde cartam”.
A antiga Igreja Matriz desta freguesia era um pouco mais ao norte da atual e foi reformada á fundatis e colocada no sitio onde está no ano de 1725, por iniciativa do seu pároco José da Silva Fonseca, com donativos dos fregueses.
A Sacristia e Capela-Mor foram construídas à custa dos Padroeiros em 1726.
Em 1788 fez-se a torre, ao lado direito da fachada, sendo nela colocados os sinos que estavam em um torreão de madeira.
O altar-mor é em bela talha dourada, estilo barroco, e os tetos em caixotões pintados. Estes foram feitos depois de 1777, como se vê do Livro dos Capítulos desta freguesia.
No pavimento da Igreja, ao centro, existe urna se­pultura rasa, cuja tampa de pedra tem a seguinte inscrição: -- Sª D. R. P. JOSEPH. D. SILVA FONC.ª QUE COMPROV... SEM anos 17. Algumas das letras, gastas pela ação do tempo, já se não lêem. A Residência Paroquial, ao poente e em frente à igreja, foi construída em 1752.
O Cruzeiro Paroquial está no largo em frente ao Cemitério e é pequeno, baixo, nada tendo de notável.
Tem esta freguesia três capelas:
A Capela de Santiago, sita no lugar de Santiago, foi a antiga matriz da freguesia de Moldes e hoje é capela pública. Por ameaçar ruína em 1839 fizeram-se nela obras de pedreiro, carpinteiro e caiador.
A Capela do Senhor dos Passos, erigida ao lado da estrada, no cruzamento desta com a Avenida que dá acesso à Igreja Paroquial, com esmolas dos seus devotos, foi cedida à Junta da freguesia em 1867. Esta capela, onde se alberga a imagem do Senhor dos Passos, é pequeníssima, tendo em frente um alpendrezinho de quatro colunas. Na base da cruz que se ergue sobre o telhado tem a data 1869.
Capela de Santa Cruz que alveja no extremo da freguesia, na encosta do monte, é de construção humilde; tem sobre a sua porta principal a seguinte inscrição : -- SANTA. CRVS. Por cima da fresta, aberta ao lado daquela porta, tem a data -- 1842 e do outro, no sitio onde devia ter a outra fresta, vê-se urna lápide com a seguinte inscri­ção -- A. FESTA. HE. NO. PR.º DOMINGO DE JVNHO. Dentro, no soalho, tem uma abertura feita em forma de cruz e cercada de grades de ferro, para indicar o sitio onde aparecem na terra a cruz que deu causa a ereção desta capela.
Ao poente e pouco distante dela existe o cruzeiro, há pouco tempo reformado e todo revestido de cimento, onde vão as procissões no dia de festa.
Tem esta freguesia os seguintes Nichos ou Alminhas: o de Remelhe, ao lado da estrada, e o dos Paranhos, junto à antiga estrada real de Famalicão a Barcelos, perto do Perdigão.
A Confraria do Sacramento foi Instituída em 1726 e funciona na Igreja Matriz. O Cemitério Paroquial tem sobre o seu portão a data 1887.
Foi acrescentado em 1927, alargando-se para a frente, para dar lugar a construção da capela monumento a D. António Barroso.
É esta uma linda e característica ermidazinha de aldeia, com seu alpendre em colunas de granito; dentro tem altar em que se pode dizer missa e ao centro uma mesa de pedra, onde assenta a urna funerária que contém o corpo deste santo bispo.
Foi mandada construir, conforme o projeto do dis­tinto arquiteto senhor J. Marques da Silva, por uma comissão organizada pelo sr. Dr. Bento Carqueja, Diretor do diário “O Comércio do Porto”, e com o produto de uma subscrição aberta para esse fim.
Neste cemitério vêem-se vários jazigos de famílias, dos quais destacaremos apenas dois: o de D. António de Sousa Barroso, mandado por ele fazer em 1899 e o da família da Casa de Torre de Moldes, em forma de capela.
Por cima da porta tem este a seguinte inscrição: “A Saudosa Memória de F. A. de Brito Limpo” e ao lado outra que diz assim: “A. D. Gonçalves, construtor, R. Saraiva de Carvalho 240, Lisboa. Mármore de Cerca de Santo António de Estremoz”.
Está esta freguesia situada na encosta poente do monte de Remelhe, ou Monte Grande, e confronta pelo norte com a de Alvelos e a de Gamil, pelo nascente com a de Midões e a de Santa Eulália de Rio Covo, pelo sul com a das Carvalhas e a de Góios, e pelo poente com a de Pereira e a de Alvelos.
E servida pela Estrada Municipal, que de Barcelinhos, lugar do Areal, comunica com a de Barcelos às Fontaínhas, e segue até às Carvalhas onde se bifurca para Silveiros, Chorente e Góios.
E servida ainda por um travesso que desta estrada passa pela Escola e dá comunicação com aquela Estrada de Barcelos ás Fontaínhas, no alto das Portelas em Pereira.
Em 1927 foi aberta a Avenida da estrada até á Igreja Paroquial.
Nasce nesta freguesia, no sitio de Campelos, o ribeiro dos Amiais que vai desaguar no Cávado, lugar de Mereces, freguesia de Barcelinhos.
Tem as seguintes fontes públicas: Igreja, Tanque, Felgueiras, Cachada, Sobreiro, Quintão, Lama, Bouça, Rio, Amiães, Vilar, Portela (Fonte Velha), Portela (Fonte Nova), Casal ou Braziela, Barrouco, Ribeirinho, Remelhe,
Santa Marinha, Santa Cruz, Prado, Branco, Pedro e Campelo.
A sua população  no século XVI era de 48 moradores (Moldes 23 e Remelhe 25); no século XVII era de 70 vizinhos; no século XVIII era de 85 fogos; no século XIX era de 493 habitantes e pelo último censo da População é de 629 habitantes, sendo 275 varões e 354 fêmeas, sabendo ler 91 homens e 36 mulheres.
Esta população está distribuída pelos seguintes luga­res habitados: Outeirinho, Santiago, Casa Nova, Vilar, Lama, Quinta, Sobreiro, Portela, Igreja, Torre, Bouça, Gaiteira, Cachada, Moldes, Paranhos e Felgueiras.
Tem Escola Oficial para ambos os sexos, que fun­ciona em edifício próprio.
Este tem na frontaria, voltada á estrada, a seguinte inscrição - ESCOLA. FUNDADA. POR. DOMINGOS. GOMES. FERREIRA. DA. COSTA. 1894.
O seu comércio é exercido principalmente em quatro lojas ou vendas, havendo ainda nesta freguesia vários negociantes por junto de gado lanígero e caprino. A sua indústria está reduzida a engenhos de serrar madeira e algumas moendas.
As casas mais importantes desta freguesia são: a da Torre de Moldes, a de Morais, a da Fonte, a de Santiago, a de Vilar, a da Torre, a do Lapreiro, a dos Pe­nedos, a da Vessada, a do Cruzeiro, a da Casa Nova, a de Paranhos, a Quinta do Vale e a da Portela.
No lugar de Moldes, junto á casa onde nasceu, mandou construir o saudoso bispo do Porto D. António Barroso uma modesta habitação onde viveu alguns momentos de descanso, que foram poucos, e os longos dias de exílio da sua diocese.
Foi esta freguesia berço e deu guarida. a homens Ilustres.  Mencionaremos alguns.
Manuel da Silva Fonseca, natural da freguesia de Santa Eulália de Rio Covo, senhor da Casa da Torre de Moldes nesta de Remelhe pelo seu casamento com D. Isabel de Mariz, criou á sua custa urna Companhia de Auxiliares de que foi Capitão, servindo com ela na defesa das fronteiras nas guerras da aclamação.
P.e José Silva Fonseca, natural desta freguesia, e seu pároco durante muitos anos.  Por sua iniciativa fizeram-se obras na Igreja Paroquial em 1726.
“A crónica da Província da Soledade”, Parte I, Iivro IV, cap. V n.º 32 a folhas 297, refere-se a este pároco de Remelhe, dando-o como um dos subscritores para a Capela do Senhor da Fonte da Vida no Convento da Franqueira.
O Dr. José Valério Pereira da Fonseca, natural desta freguesia, senhor da Casa de Morais, Juiz de Fora em Figueira de Castelo Rodrigo, Desembargador da Re­lação do Porto, 1792, Corregedor da Comarca da Guarda (1803) Superintendente Geral das Munições de boca para as tropas da Província do Mingo, etc.
O Dr. João Nepomuceno Pereira da Fonseca e Silva Veloso, irmão do antecedente e senhor da Casa de Torre de Moldes, foi Juiz de Fora na vila da Mecejana (1778), Ouvidor da Comarca de Barcelos (1809).
Casou em 3 de Julho de 1789 com D. Francisca Isabel Cabral Limpo Brito Guerreiro de Aboim, da vila de Aljustrel.  Preso quando estava na sua casa de Remelhe pelas Ordenanças do couto de Capareiros, foi morto nos Arcos de Valdevez em virtude de um tumultuoso Conselho de Guerra, após a invasão francesa, acusado de jacobino, quando é certo que este ilustre Remelhense, pela sua influência pessoal e no exercício do seu cargo, livrou a vila de Barcelos dos vexames que às outras terras inflingiram os invasores.
Por sentença da Relação do Porto de 15 de Março de 1810, foi reabilitada a sua memória, reconhecendo-se-Ihe naquela sentença as suas altas qualidades de cidadão, amante da sua pátria e defendendo-a e prestando-Ihe valiosos serviços.
Domingos Gomes Ferreira da Costa, natural desta freguesia, adquirindo no Brasil grandes haveres, dotou-a com um edifício para as suas escolas.
José Narciso da Costa Amorim, desta freguesia, es­creveu em 1860 um interessante e curioso livro sobre as obras da Igreja Paroquial e outros factos importantes. Encontra-se o manuscrito na casa de Santa Marinha, e o titulo diz: “feito por devoção e caridade de José Narciso da Costa Amorim”.
Francisco António de Brito Limpo, natural desta fre­guesia, senhor da Casa da Torre de Moldes, assentou praça em 1853, foi promovido a Alferes de Engenharia em 1857, a Tenente em 1859, a Capitão em 1871, a Major em 1880, a Tenente-coronel em 1885 e a Coronel, posto em que faleceu, em 1890.
Muito considerado, deixou o seu nome ligado a um instrumento de precisão e a várias obras importantes. Escreveu e publicou livros e vários artigos em jornais.
Casou com D. Adelaide da Costa Brandão, faleceu em Lisboa em 8 de Abril de 1891 e jaz no cemitério de Remelhe, para onde foi trasladado o seu cadáver em 1893.
D. António José de Sousa Barroso, nascido nesta freguesia em 5 de Dezembro de 1854, frequentando o Colégio das Missões Ultramarinas do Cernache do Bon­jardim, ordenou-se de presbítero e foi missionar em África.
Missionário no Congo, 1880, foi bispo de Hymeria e Prelado de Moçambique, 1891, bispo de Meliapôr, 1897, bispo do Porto, 1899, onde faleceu em 30 de Setembro de 1918.
Trasladado o seu cadáver para Barcelos e daqui para o cemitério de Remelhe foi inumado no jazigo por ele mandado fazer.
O jornal “O Comércio do Porto”, tomando a iniciativa da constituição de uma Comissão e de uma subscrição pública, mandou erigir a Capela-monumento no cemi­tério desta freguesia, para onde foi trasladado o corpo deste santo bispo em 5 de Novembro de 1927, após solenes exéquias na Igreja Paroquial a que concorreram vários bispos, muito clero e imenso povo.
E na freguesia que Ihe foi berço dorme o eterno descanso aquele que foi um bispo modelar, um ilustre cidadão e um ardente patriota.
Ditosa pátria que tal filho teve !
Para atestar a passagem dos celtas por estas terras existiu em uma bouça, perto da Capela da Cruzinha, um dólmen (5).
Esse monumento pré-romano foi vendido pelo proprietário do prédio a um pedreiro que o rachou para esteios!
Há ainda perto do lugar da Portela o sitio denominado Anta, que pelo nome nos faz lembrar a passagem por aqui daquele povo.
É no ponto mais elevado do monte de Remelhe, denominado os castelos, que os povos das circunvizinhanças ainda vão no último dia do ano observar as têmporas corno é costume dizer-se.
Acendem nesse lugar um facho de palha á meia noite desse dia para observarem donde sopra o vento; desta maneira eles predizem se o futuro ano é seco, chuvoso, etc.
E tão arreigados estão nesta crendice que é perigoso contradizê-los.

(1) P.C António O. Pereira - Trad. Popular, pág. 381.
(2) Vida, sustento, comida, refeição; umas vezes dava-se em cousas de comer já guisadas, como caldo, leite, carne, etc. e outras em dinheiro ou cousas comestíveis não cozinhadas - Viterbo Eluc. vol. II, pág. 268.
(3) Fossadeira, tributo que se pagava por não ter ido ao fossado, rasia que se fazia nos campos inimigos para colher os frutos e ervagens não maduros.  Viterbo Eluc. vol.!, pág 3(30.
(4) Em 1527 ainda tinha vida independente, como se vê do Censo da População daquele ano.
(5) Alexandre Herculano-Port. Mon. Hist. Inquiritiones.
(6) Informa-me o sr. B. Antas da Cruz que foi, em compa­nhia do falecido Dr. Ferraz examina-lo e que o achou perfeito.

In “ O CONCELHO DE BARCELOS AQUÉ E ALÉM-CÁVADO” – Teotónio da Fonseca (1948)

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